segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Morangos em Novembro
Verão de S. Martinho, dirão alguns.
Não chove há mais de um mês. A terra está ressequida. Esboroa-se a golpes de enxada, espalhando a poeira de Agosto.
Veio-me à memória as enxurradas de Novembro de 1997. Dos mortos na Funcheira, no Carregueiro, em Garvão. Dos mais de 100 litros por metro quadrado caídos entre as 9 horas de 5 de Novembro e as 9 horas de 6 de Novembro. Dos mais de 4.000 metros cúbicos por segundo do caudal do Guadiana à entrada de Portugal.
É assim que estamos: divididos entre extremos. À mingua, mas receosos da fartura.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
This is the end, beautiful friend, this is the end, my only friend, the end
Eu próprio vi, com os meus olhos. Os carros amontoavam-se por todo o lado. O estacionamento (amplo) abarrotava. Os passeios em volta, apinhados. Carros por todo o lado, a dezenas (centenas?) de metros de distância.
Foi sábado à tarde. As pessoas estavam satisfeitas dentro do supermercado. Rostos conhecidos rejubilavam. Ninguém reparou que os preços aqui estavam bem mais altos que no Pingo Doce (passe a publicidade).
As pessoas têm o que querem. E o Belmiro também.
Vou fazer um luto prolongado. Talvez até nem volte. Estou certo que quase ninguém dará pela falta.
E desculpem o tempo que lhes tomei.
(a imagem foi roubada dos Brados online, também eles convertidos aos benefícios do templo consumista)
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Menos azeite e menos azeitona à mesa
Aparentemente, dias de calor intenso em Maio, seguidos de dias frios, afectaram a floração de forma severa.
Muitos olivicultores queixam-se de "um verão que não foi verão" e deste Outubro, com temperaturas quentes para a época.
Por outro lado, a traça, a mosca e, principalmente, a gafa estão a afectar os olivais progressivamente.
Menos azeite e menos azeitona à mesa. Sinal dos tempos?
http://www.dl.ket.org/webmuseum/wm/paint/auth/gogh/landscapes/index.htm
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Governo mexe na área geológica
No artigo 3º, relativo a missão e atribuições, pode ler-se, entre outras:
1 — O LNEG, I. P., tem por missão impulsionar e realizar acções de investigação, de demonstração e transferência de conhecimento, de assistência técnica e tecnológica e de apoio laboratorial dirigidas às empresas, nos domínios da energia e geologia.
2 — São atribuições do LNEG, I. P.:
(...)
c ) Promover, realizar e gerir estudos, cartografia sistemática e projectos nos domínios da geologia, hidrogeologia, geologia marinha e costeira, bem como promover a realização de inventariação, revelação, aproveitamento, valorização, monitorização e conservação dos recursos minerais, rochas ornamentais e águas naturais;
d ) Assegurar as funções permanentes do Estado relativamente ao conhecimento contínuo da infra-estrutura geológica do terreno nacional, com vista ao desenvolvimento sustentável do País;
e ) Promover a realização de investigação e de desenvolvimento tecnológico orientados para a actividade económica e as exigências do mercado, no domínio da energia e da geologia;
f ) Cooperar com instituições científicas e tecnológicas afins e participar em actividades de ciência e tecnologia, nacionais e estrangeiras, designadamente participando em consórcios, redes e outras formas de trabalho conjunto;
g ) Realizar contratos com empresas localizadas em Portugal, de modo a contribuírem para a criação de plataformas de conhecimento aplicado, a nível regional ou nacional, devidamente internacionalizadas.
O LNEG, I. P., sucede assim nas atribuições do INETI, I.P., nas áreas científicas de energia e geologia. Transitam ainda para o LNEG, I. P., as participações sociais no Centro Tecnológico para Aproveitamento e Valorização das Rochas Ornamentais e Industriais (CEVALOR) e na Associação para a Formação Tecnológica do Sector das Rochas Ornamentais Industriais (ESTER), entidades sedeadas em Borba.
Deseja-se ao LNEG e ao pessoal que para aí transita votos do maior sucesso, ao mesmo tempo que se espera que a criação do LNEG signifique, por parte do Governo, a assumpção da importância da Geologia no panorama nacional, fazendo esquecer o período negro que se seguiu à extinção do Instituto Geológico e Mineiro em 2003.
domingo, 28 de outubro de 2007
Fresquidão
sábado, 20 de outubro de 2007
Tábua de salvação para industriais em apuros?
No preâmbulo do diploma pode ler-se que o seu objectivo essencial é "adequar o Decreto -Lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro, à realidade do sector, o que permitirá que sejam cumpridos os fins a que inicialmente se propôs, tornando possível o necessário equilíbrio entre os interesses públicos do desenvolvimento económico, por um lado, e da protecção do ambiente, por outro."
Esta alteração tem como premissa o facto de que, a legislação que agora se altera "veio a revelar -se, na prática, demasiado exigente ao pretender regular através de um regime único um universo tão vasto e diferenciado como é o do aproveitamento das massas minerais das diversas classes de pedreiras".
Classes de pedreiras criadas (Artº 10-A):
1 — Para efeitos do presente diploma, as pedreiras são classificadas de 1 a 4, por ordem decrescente do impacte que provocam.
2 — São de classe 1 as pedreiras que tenham uma área igual ou superior a 25 ha.
3 — São de classe 2 as pedreiras subterrâneas ou mistas e as que, sendo a céu aberto, tenham uma área inferior a 25 ha, excedam qualquer dos limites estabelecidos nas alíneas a), b), c) e d) do número seguinte ou recorram à utilização, por ano, de mais de 2000 kg de explosivos no método de desmonte.
4 — São de classe 3 as pedreiras a céu aberto que recorram à utilização, por ano, de explosivos até 2000 kg no método de desmonte e que não excedam nenhum dos
seguintes limites:
a) Área — 5 ha;
b) Profundidade de escavações — 10 m;
c) Produção — 150 000 t/ano;
d) Número de trabalhadores — 15.
5 — São de classe 4 as pedreiras de calçada e de laje se enquadradas na definição e limites do número anterior.
Parece estar assim corrigida uma legislação malquista ao sector dos industriais da pedra que, no dizer da própria Direcção Geral de Geologia e Energia "empurrou para a ilegalidade inúmeras explorações"(!), sendo que a actual "dará um contributo importante para a clarificação do procedimento de acesso legal à actividade de muitas das explorações hoje existentes, que, por razões administrativas, não lhes tem sido permitido legalizarem-se, e cujo eventual fecho poderá desencadear conflitos de ordem social e reflexos na quantidade e valor das exportações."
É claro que "não se pode pôr tudo no mesmo saco" A Lei das Pedreiras abrange realidades muito diversas, desde a das cimenteiras como a SECIL (que anunciou recentemente "planos para mil anos" na Arrábida), à das britas e pedra para calçada, passando pela dos mármores que, ao que parece, é a que está mais debilitada.
Independentemente de serem estas as verdadeiras ou únicas razões para a crise no sector, tentamos indagar, junto das entidades representativas, reacções ao novo diploma: em vão.
O site do CEVALOR (centro tecnológico do sector) está em construção; o da ASSIMAGRA (associação representativa dos industriais do sector) não é actualizado desde Maio de 2006; o da já citada DGGE, nada; o do INETI (que alberga o defunto IGM), muito menos.
Fomos pela internet fora em busca de uma reacção; umazinha que fosse!... nada...
(Governo, para que te esforças?!...)
Parece que se confirma: o sector está mesmo em crise, já não dá um sinal sequer. Se depender desta nova legislação, ainda não é desta que a (alguma) indústria da pedra se põe de pé...
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Entre cães e burros
Com esse desconhecido partilho agora estes momentos íntimos entre um cão e um burro - eles que me perdoem (especialmente um deles, que já não pertence ao número dos vivos, assassinado que foi por um ser dito humano).
Surprendi-os numa charla gostosa em plena noite de Verão no ano de 2005.
O Toti (que me está a dar cabo da cerca) comenta as saudades que sente das campinas ribatejanas donde veio há meia dúzia de meses.
O Patorras ouve-o, pachorrento, ou não fosse um típico alentejano.
Depois, o indescritível. O Patorras deita-se de lado, deixando que o Toti lhe pregue um grande beijo na boca!
Caramba, entre dois machos!
Não fosse eu um liberal e não sei o que vos fazia...
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
A vida numa poça de água
Em tempos muito numerosos no Alentejo, a extracção de água para rega, a sua drenagem e aproveitamento das terras para agricultura, o uso como vazadouro de lixo, a poluição por fertilizantes e pesticidas, condenam estas zonas húmidas ao rápido desaparecimento. Embora defendidas na lei - a Directiva Habitats (92/43/CEE) classifica-as como habitats de conservação prioritária – são ignoradas pelas maior parte das entidades oficiais e raramente objecto de acções de conservação.
Todavia revestem-se de um valor e utilidade difíceis de avaliar.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Para onde deve crescer Estremoz?
Se tivesse sido aprovado o traçado proposto pelas Estradas de Portugal o seu efeito imediato seria o de produzir um "boom" de construção que, a curto prazo, induziria a expansão acelerada da cidade para norte, em torno da rotunda de saída da variante, projectada para se situar entre o cruzamento para a Zona industrial e o cruzamento para a Frandina. "Boom" de construção que potenciaria ainda mais a destruição dos valores económicos e ambientais que a decisão governamental pretendeu acautelar.
Ora tudo está a acontecer como se o traçado da variante rejeitado pelo Ministério do Ambiente tivesse sido aprovado.
A construção do supermercado vai de vento em popa, não tarda é inaugurado. A via sofreu um alargamento generoso. E parece que os proprietários afectados pelo alargamento da via não estão nada aborrecidos em face das prometidas contrapartidas. Aproveitaram-se as obras (e muito bem!) para instalar novas infraestruturas de saneamento.
Que mais obras estarão para aparecer?
Parece agora evidente que o traçado recentemente chumbado trazia agarrado a si um conjunto de iniciativas altamente lucrativas, nomeadamente para todos aqueles que espreitam a oportunidade de realizar a apropriação privada das mais valias criadas pelos actos administrativos de licenciamento e autorização de construção através de processos de desafectação visando a produção de solo urbano.
Veremos se isto terá a ver com os famosos "compromissos" assumidos (mas nunca revelados) que impediam a consideração da alternativa da variante a Estremoz pelo lado nascente, em vez de poente.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Nos Arcos em busca do vinho da talha
"Fomos ao Alentejo em ronda pelas terras próximas de Estremoz, numa roda de amigos. Ao cabo aportámos nos Arcos, terra próxima de Estremoz, para visitarmos a tasca do Ti Gato, afamada pelo vinho fermentado nas talhas antigas, que orgulhosamente ostenta no estabelecimento.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Reconversão urbanística participada
No preâmbulo deste diploma é reconhecido que "o centro histórico de Estremoz é constituído por um
tecido urbano de relevante valor histórico, arquitectónico e cultural, que tem, no entanto, sofrido um processo de degradação urbana, patrimonial, ambiental e social, decorrente do seu envelhecimento, que urge resolver e inverter. Esta degradação caracteriza -se por uma estrutura habitacional
bastante envelhecida e por infra -estruturas obsoletas, o que tem determinado o agravamento das condições de segurança e salubridade dos edifícios."
E refere no seu artº 2º que "Compete a Câmara Municipal de Estremoz promover, em colaboração com as demais entidades interessadas, as acções e o processo de recuperação e reconversão urbanística".
Está assim na altura de alargar o debate à população interessada, de forma a encontrar soluções com as quais os estremocences se identifiquem, e não quaisquer outras desenhadas em gabinetes que se dedicam a fazer "chapa 5" por esse país fora, de Valença a Vila Real de Santo António (o que só lhes fica bem, num esforço de rentabilidade económica interna) e que mais não fazem que contribuir para a descaracterização das regiões portuguesas que ainda mantém alguma genuinidade.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Antes do separar das águas
Em muitos lugares.
Uma pequena parte do Tejo nasce aqui bem perto, nas faldas da serra de Ossa e toma o nome de ribeira de Tera, quando passa lá em baixo ao Cerejal. Depois, para os lados do Cabeção, entre Pavia e Mora, junta-se ao Sorraia, e quando chega ao Tejo as suas águas são apenas uma ínfima parte das do grande rio peninsular.
Bem perto donde nasce a ribeira de Tera, nasce também a ribeira de Rio de Moinhos. Mas essa inflecte decididamente no sentido oposto, até encontrar a ribeira de Lucefecit e, em seguida, o grande rio do Sul, o Guadiana.
Entre a ribeira de Tera e a de Rio de Moinhos passa a linha de festo que separa a bacia hidrográfica do Tejo, da do Guadiana. Assim, numa pequena área, a nascente da Glória, as gotas de água da chuva quando caem, não sabem se vão parar a Lisboa ou a Vila Real de Santo António. Com vento suão, é mais provável que cheguem à capital; se sopra a nortada talvez encontrem o Oceano na divisa meridional luso-espanhola.
No momento em que as águas se dividem quase tudo é indecisão. Com o separar das águas abrem-se sulcos, aprofundam-se trilhos e entalham-se rumos. Mas é nesse espaço-tempo mágico que precede a certeza, que tudo se joga.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
"Pra não dizer que não falei de flores"
Mas certos ângulos de visão evidenciam contrastes tão flagrantes quanto dolorosos. Atente-se nesta foto (clique nela para ampliar):
- No topo domina o castelo e o casario em volta, enxameado de antenas de televisão.
- Em baixo, no terreiro do Rossio, ao lado de barracas feitas de chapa ondulada, cresce um poste donde partem fios eléctricos a eito, em todas as direcções. Dependuradas, como jacas nascendo do tronco, numerosas caixas metálicas, prenhes de funcionalidade. E, quais cerejas no topo do bolo, grossos rolos de fio negro esperam ainda vir a ser úteis.
Pode ser que tudo isto esteja certo. Sou leigo em instalações eléctricas. Pode ser apenas esquisitice minha. Só não entendo porque não encontro disto quando viajo por França, Itália ou Alemanha. Só não percebo porque, estranhamente, tudo isto me faz lembrar o Brasil, Angola ou Moçambique.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Não à refinaria na Extremadura espanhola
domingo, 30 de setembro de 2007
3ª crónica de entre-o-douro-e-minho
Um lugar mágico, apenas timidamente demonstrado pelas fotos que se seguem:
1ª - O rio evolui entre caos de blocos graníticos. As quedas de água proporcionaram a instalação de dezenas de moinhos no seu percurso, actualmente abandonados.
2ª - A "levada da Cancela"- junto com a "levada do Cimo de Vila" conduziam a água para os lameiros; no seu lugar ficará um canal em betão, que levará à câmara de carga da mini-hídrica.
Neste percurso de escassos quilómetros, penhascos alterosos, vegetação luxuriante, águas cristalinas e até calçadas medievais (romanas?), tudo é dado ver ao caminhante que ali se aventure, quase como era há séculos atrás. De graça.
Mas que permanece apartado dos olhos do comum dos mortais. Felizmente?
Em seguida, a palestra que me foi pedida sobre Mini-hídricas e Impactes Ambientais, feita nas improvisadas instalações da Associação. Onde novos e menos novos ouvem e discutem (pela primeira vez?) conceitos estranhos de caudais ecológicos e caudais turbináveis, avaliação de impactes ambientais e medidas de minimização.
E depois a mesa farta do lanche, com "bolo" de sardinhas e de carne, vinho "doce" (o mosto), bolinhos de bacalhau, marmelada e outra iguarias.
E, finalmente, em noite de "derbies" (Benfica-Sporting e Porto-Boavista), nem por isso a população deixou de encher o salão paroquial para ouvir as explicações do engº. Francisco Piqueiro, professor de Hidráulica da FEUP (e velho conhecido de outras andanças).
As explicações do técnico colheram: antes das necessidades da mini-hídrica, as da rega e dos moinhos.
Garantias? Fácil: as suas tomadas de água ficam na ponta do canal, a cota inferior à da que alimenta a câmara de carga e a conduta forçada para as turbinas). Isto é, se não houver água para a rega e os moinhos, muito menos haverá para a mini-hídrica.
E quanto ao caudal ecológico (o que é mantido no rio): 160 litros por segundo. Sempre? Sim, desde que a natureza o forneça, como é óbvio.
Foi pacífico? Não. Quase 4 horas de discussão. Mas a democracia real não se constroi de outra forma.
E no fim despedimo-nos todos (autarcas, representante da empresa, projectista, população... e nós) com um... até à próxima!
Já todos percebemos que, para o processo ser conduzido a bom porto, vão ser necessárias mais umas boas dezenas de sessões!
terça-feira, 25 de setembro de 2007
A Mina da Mostardeira e o uso futuro do território
A mina da Mostardeira deu início à exploração de cobre em 1863. Foram construídos dois poços (um para extracção e outro para esgoto de água subterrânea) até uma profundidade de cerca de 100 metros.
O campo de lavra estava dividido em seis pisos, onde o desmonte era feito pelo sistema de degraus invertidos com enchimento de vazios.
Laborou durante cerca de 20 anos. Até 1894 foram exportadas cerca de 2.000 toneladas.
Durante todo o século xx permaneceu sem quaisquer trabalhos de recuperação ambiental, exibindo os resíduos mineiros a céu aberto, que em certos casos foram mesmo aproveitados como materiais de pavimentação.
Estudos levados a cabo pelo Instituto Geológico e Mineiro em 1997 permitiram a recolha de alguns dados geoquímicos nos sedimentos de linhas de água e aluviões colhidos na área de influência da mina da Mostardeira, tendo em vista uma avaliação preliminar da contaminação química produzida no ambiente a partir dos trabalhos mineiros. Os resultados obtidos apontaram para uma situação de risco ambiental potencial.
Trabalhos realizados pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa em 2004 a pedido da Câmara Municipal de Estremoz confirmaram a presença dos elementos da associação cobre-arsénio em concentração anómala nas linhas de água imediatamente a jusante da mina.
Qualquer utilização futura de terrenos afectados por trabalhos mineiros, que faculte a exposição a substâncias perigosas, deve ser objecto de uma avaliação do risco para a saúde humana e para o ambiente. E, logicamente, deve dar lugar à execução de trabalhos de requalificação ambiental, que permitam dar um novo uso adequado, e seguro, aos terrenos recuperados.
Numa situação como a que ocorre na mina da Mostardeira, e que se repete em centenas de locais por esse país fora, que não permite a aplicação do princípio do poluidor-pagador (pois esse desapareceu há muito), cabe ao Estado encontrar a solução – inclusive financeira - que permita efectuar a avaliação da contaminação e os trabalhos de remediação compatíveis com o nível de descontaminação requerido para o efeito.
Foto de Luis Martins
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Ciência na Rua
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Nem tudo é mau
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Porque não contribui a indústria dos mármores para o progresso de Estremoz?
Importa referir que esta evolução foi acompanhada pela tendência de exportação de produtos de maior valor acrescentado, em detrimento dos produtos em bruto, tendo em 20 anos os produtos exportados "em obra", passado para cerca de 3/4 do total, em contraste com os cerca de 1/3 registados em 1975.
No fim da década de 90 Portugal ainda se mantinha no grupo dos cinco maiores produtores e exportadores de produtos acabados de rochas ornamentais juntamente com a Itália, China, Espanha e Índia.
Mas, apesar dos pontos fortes:
- existência de recursos geológicos diversificados e de qualidade, com realce para os mármores
- uma capacidade de transformação instalada razoável (embora com alguma debilidade nas fases finais do ciclo produtivo)
- um sector dinâmico de exportação,
- mau aproveitamento das jazidas, resultante de um baixo nível tecnológico
- insuficiente capacidade técnica, de gestão e organização da produção
- inexistência de estratégias eficazes de marketing, comercialização e internacionalização.
De facto, com excepção de poucas (grandes) empresas do sector extractivo, a esmagadora maioria do tecido empresarial caracterizava-se por uma estrutura financeira deficiente, baixo nível tecnológico, fraco domínio dos canais de comercialização e baixos níveis de qualificação da mão-de-obra e do controlo ambiental e sanitário.
Este sub-dimensionamento das unidades produtivas teve consequências importantes na falta de competitividade, em termos de economia global, e clara relação com o baixo nível tecnológico, que se traduz em baixa produtividade, quando comparada com a dos países directamente concorrentes. A produtividade do subsector das rochas ornamentais em Portugal, situada em 1993 nas 280 toneladas por trabalhador, era equivalente a ¼ da italiana - o que tinha correspondência com o facto do custo unitário do trabalho em Portugal ser igual a 28% do italiano.
De então para cá as empresas foram confrontadas com mutações da envolvente internacional e com constrangimentos de competitividade que exigiam capacidade de reacção e adaptação à mudança (factores que não são compatíveis com o nível de rigidez estrutural entretanto acumulado ao longo de décadas).
Teria sido necessário assumir um novo modelo de industrialização, caracterizado por alterações significativas nos modos de produção (introdução de novas tecnologias e novas formas de organização produtiva), na natureza do produto (ciclos de vida cada vez menores) e nas formas de comercialização.
E teria sido também necessário compreender que uma nova geografia de segmentos de produção de menor valor acrescentado se ia desenhando, produzindo fenómenos de deslocalização e o aparecimento de novos países industriais (China, India, Brasil, Africa do Sul).
A flexibilização dos sistemas de produção, como resposta às flutuações que caracterizam os mercados, com a substituição da produção em massa por pequenas séries de produtos por medida e a incorporação de serviços especializados de alto conteúdo tecnológico, são tendências que, necessariamente, se deveriam ter aprofundado.
Infelizmente, ao contrário, a estrutura empresarial continuou a caracterizar-se pela fraca dinâmica de mercado, a tecnologia banalizada e a fraca integração activa nas redes de comercialização, não tendo por isso condições para acompanhar o ritmo dos novos competidores da envolvente internacional.
A generalidade das empresas não foi capaz de desenvolver factores determinantes para uma melhor posição concorrencial, como seja: a cooperação entre empresas ao nível da investigação pré-competitiva, a expansão de eco-tecnologias, o investimento em formação, investigação e desenvolvimento e marketing, as tecnologias da informação, a organização da produção, etc...
20 anos se passaram sobre o boom dos mármores de Estremoz. Há 10 que subsiste a agonia.
O que se pode esperar de uma indústria que não contribuiu para o progresso de Estremoz enquanto foi rica, agora que vive a sua decadência?
domingo, 16 de setembro de 2007
2ª crónica de um debate no entre-douro-e-minho
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Rossio Marquês de Pombal: ideias precisam-se!
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Prémios, para que vos quero...
Estará a dormir certamente no recato de alguma prateleira, se é que já não foi para o lixo.
(É caso para perguntar: para que serve a Zona Industrial se as indústrias se espalham sem critério por toda a malha urbana?)
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Os nós e os laços... de família
Isto, pela simples razão de que o nó de ligação à A6 já está construído (a poente) e seria por isso, "dificilmente defensável a construção de uma nova saída".
Outros, impantes de bairrismo serôdio, tão triste quanto ridículo, aproveitam a "deixa" para espicaçar ódios de estimação, insinuando que, se a solução não for a que contemple o nó já construído, Estremoz corre o risco de perder a ligação ao IP2 em detrimento de Borba, para onde passaria a ligação deste itinerário principal à A6.
Estas posições partem de um pressuposto errado: o de que Estremoz só tem direito a um nó de ligação à A6.
Ao contrário de Montemor (que tem 2). Ao contrário de Elvas (que tem 4!).
Argumentar-se-á que a proximidade entre os nós de Estremoz e Borba não deixa espaço para um nó intermédio.
Pois bem: aqui vai uma ajuda. Meça-se a distância entre os nós extremos de Elvas. A mesma que existe entre Estremoz e Borba.
Entre os nós de Elvas poente e Elvas nascente foi possível construir mais 2 nós.
Porque não será então possível construir um novo nó, para melhor servir Estremoz?
Porque terá Estremoz de pagar o preço do erro inicial cometido pelas Estradas de Portugal/BRISA assistindo, impávida e serena, à sua consumação através de novo erro, agora esmagador para as legítimas aspirações de desenvolvimento sustentável da cidade?
É por isso, a meu ver, surpreendente e até penoso, verificar tamanha unanimidade entre os principais partidos políticos representados em Estremoz, na inevitabilidade da aceitação das soluções impostas de cima. E o murmurar sediço daqueles que têm por missão repetir o que lhes é ditado pelos "laços de família"...
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
O Tanque dos Mouros vale zero?
Não faço ideia.
Imagino que, à semelhança do que acontece com muitas outras coisas (o preço do metro quadrado dos terrenos, o preço da água, etc...) depende do lugar onde se encontre.
Em alguns países já vi ruínas bem mais insignificantes serem objecto de protecção e conservação patrimonial, serem divulgadas como elemento da cultura de um povo, serem valorizadas como objecto turístico.
Mas em Estremoz é assim: destruído com a construção da EN4, o "Tanque dos Mouros" foi aos poucos esquecido até restar apenas alguns pequenos trechos arruinados da sua antiga estrutura.
A sua recuperação ainda fará sentido? Imagino que, interrogada a este respeito, a esmagadora maioria dos estremocences dirá que não. Presumo que, à pergunta inicial: "quanto vale esse pedaço de muro", responderiam: nada.
De quem é a culpa?
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
O chumbo do traçado da variante: derrota ou vitória para Estremoz?
Um sentimento de derrota perpassa nas declarações do establishment local que me parece completamente desajustado: tudo se passa como se Estremoz tivesse perdido com o chumbo do traçado da variante proposto pelas Estradas de Portugal.
Não falo no que dizem os mentideros de Estremoz. Esses cumprem a sua função de “velhos do Restelo”. Desmoralizar é o seu lema. Mas é penoso ver como pessoas que têm a responsabilidade de manter elevado o ânimo dos seus concidadãos passam para a opinião pública a ideia de que existem "forças ocultas" que querem o mal de Estremoz e de que, por mais que se faça, não é possível vencê-las. Ora é precisamente do oposto que se trata.
O chumbo do traçado proposto pelas Estradas de Portugal foi uma grande vitória de Estremoz:
Em primeiro lugar, porque os estremocences provaram que, organizados, podem opor-se a forças externas quando elas procuram impor soluções desenhadas nos gabinetes, sem ter em conta a realidade no terreno e, pior do que isso, pondo em causa valores económicos, sociais e ambientais que, muito em breve, se virão a revelar fundamentais para o desenvolvimento sustentável de Estremoz.
Em segundo, porque o projecto da solução alternativa que agora terá de ser estudada e apresentada pelas Estradas de Portugal com carácter de urgência (devemos exigí-lo!) não mais poderá ser feito nas costas dos estremocences. É de um estudo tão participado pelos cidadãos quanto possível que se espera, para que não se voltem a cometer os erros que atrasaram o processo mais de uma década.
E em terceiro, porque esta vitória levará os estremocences a outros sucessos. Não mais será possível olhar para Estremoz como uma cidade atrasada, que recebe tudo o que vem de fora sem protestar. Estabelecer uma visão crítica, própria, de quem sabe o que quer e o que é melhor para si. Uma sociedade civil reivindicativa, mas serena e inteligente.
É este um sinal essencial das democracias avançadas e participativas.
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
A notícia do chumbo do traçado da variante no Público
O Público, na sua edição de hoje, dá destaque ao peso que a intervenção dos cidadãos teve na decisão do Ministério do Ambiente e sublinha o facto da Consulta Pública ter sido classificada de "exemplar".
Este processo pode inclusivé vir a constituir um case-study de democracia participativa no panorama nacional, tão parco de exemplos de intervenção da sociedade civil na discussão das opções de desenvolvimento dos territórios em que vivem.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Secretário de Estado chumba em definitivo este traçado do IP2
a) o projecto induzirá impactes negativos significativos, em termos de uso do solo, condicionantes e componente social, decorrentes do desenvolvimento do traçado proposto sobre áreas de vinha (em franca exploração), olival (recentemente plantado) e montado (povoamento vcom árvores de médio e grande porte);
b) a Consulta Pública que foi muito participada, apresentando uma fundamentação objectiva para os impactes negativos no uso do solo e na socioeconomia;
c) não foram analisados corredores alternativos, impedindo a identificação de um eventual corredor com menores impactes ambientais;
d) o parecer desfavorável do Instituto de Meteorologia, dada a existência de uma estação sísmica pertencente à Rede Sísmica Nacional, considerada vital para esta rede e essencial para a vigilância sísmica à escala local, regional e global.
O projecto volta agora à "estaca-zero", sendo importante que todas as forças locais contribuam para ajudar o promotor do empreendimento a encontrar a solução que melhor sirva os interesses de Estremoz.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
"Voando sobre um ninho de cucos"
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Estremoz Skyline
Todas as cidades têm direito à sua linha de horizonte. A mais famosa, Manhattan Skyline, nem por ter sofrido o ataque às torres gêmeas em 2001 deixou de ser bela.
Já o mesmo não se pode dizer da Estremoz Skyline. Do alto das suas muitas dezenas de metros quem lá manda são os silos da EPAC.
Duas linhas de actuação são possíveis:
- ou é para ficar, e então estude-se a hipótese de o transformar num hotel, tal como já foi proposto e aprovado para os silos das Caldas da Rainha.
- ou é para tirar, e pode seguir o destino das torres de Troia.
Mais um contributo para a discussão do tal Plano Estratégico para o Centro Histórico e Remate Urbano Leste: o que está proposto aí para os silos da EPAC?
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
"Sem tecto entre ruínas"
As pedreiras da Cerca de Santo António, propriedade da Câmara Municipal de Estremoz, são exploradas pelo menos desde 1850.
Neste século e meio de convivência pouco pacífica com o património arquitectónico religioso - a Igreja e o Convento de Santo António - está bem de ver quem perde.
Mas o que mais confrange é o facto de a degradação ter vindo a acelerar de forma notória nas últimas duas dezenas de anos.
Recordo-me de, em 1987 - quando, a pedido do então Presidente da Câmara, avaliei o risco de desabamento da parede contígua ao cemitério - o convento estar ainda em razoável estado de habitabilidade, embora parcialmente transformado em oficina de cantaria.
Hoje parece apenas esperar a derrocada eminente. Alguns planos para o salvar no já citado Estudo Estratégico de Recuperação do Centro Histórico e Remate Urbano Leste? Tomara que sim!
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Estar a Leste
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Porque "o essencial é invisível aos olhos"
Em pleno centro histórico de Estremoz? Junto às muralhas do castelo?
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Centro de Ciência Viva de Estremoz: quantos estremocences o conhecem?
Mas é necessário render, antes do mais, homenagem à sua alma mater: o Prof. Rui Dias que, durante 10 anos (!) tudo fez para o tornar realidade.
A questão que se põe é: quantos estremocences o conhecem? Fiz um breve inquérito e, desgraçadamente, muitos dizem saber que existe mas poucos lá puseram os pés...
Pois tem agora uma boa oportunidade de conhecer as suas actividades! O Centro de Ciência Viva de Estremoz, no âmbito do seu programa de actividades "Geologia no Verão 2007" propõe um passeio de bicicleta pelo Sistema Solar... à escala de Estremoz. O primeiro foi no dia 12, o próximo será no dia 25 de Agosto.
Depois não diga que não foi avisado...
http://www.estremoz.cienciaviva.pt/Geo2007/bicicleta.asp
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
A grande barreira à expansão da cidade
domingo, 12 de agosto de 2007
Nova Subestação de Estremoz da Rede Eléctrica Nacional em Consulta Pública
A nova Subestação de Estremoz, que começará a funcionar em 2008, servirá não só a zona de Estremoz e Borba, em particular a indústria de mármores, de grandes exigências energéticas, mas também será base de apoio à rede de distribuição de 60 kV de alimentação à cidade de Elvas, a qual, desde há vários anos, tem sido abastecida a partir de Badajoz.
Por outro lado, esta subestação criará as condições técnicas para a futura alimentação da Rede Ferroviária de Alta Velocidade, entre Lisboa e Madrid, que atravessará o Alentejo junto a Estremoz. Esta é, aliás, a razão para que a subestação, inicialmente prevista para 150/60kV, fosse projectada para 400/60kV.
Com origem na Falagueira (Fratel), a Linha de Muito Alta Tensão seguirá de Estremoz para Évora.
A Subestação de Estremoz situar-se-á em cerca de 4 ha na Herdade da Chouriça, (S. Lourenço de Mamporcão) e todo o processo de selecção envolveu 6 localizações possíveis até à adopção de duas alternativas (A e B). A alternativa A foi seleccionada por comportar menos condicionantes na envolvente, quer ambiental, quer social. O local de implantação foi negociado com os proprietários de forma a ocupar a área menos sensível.
A nova subestação será um importante contributo para a modernização das infraestruturas, imprescindível para o desenvolvimento económico e social sustentável de Estremoz.
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
Recuperar a Serra d'Ossa
A vertente norte da Serra, virada para Estremoz, exibiu durante os últimos meses a sua face calcinada. Há várias décadas que o panorama não era tão sombrio.
É claro que a natureza pode muito. O verde despontou em muitos locais. A chuva de Outono (e alguma da Primavera), também ajudou. Mas importa ver também os efeitos deletérios no ambiente: desde logo a erosão.
Os efeitos erosivos na área ardida passam pelo arrastamento das cinzas e a contaminação das águas, pela obstrução das passagens hidráulicas e a destruição dos caminhos e, principalmente, pela perda de solo.
Não havendo controlo da erosão a perda de solo em terrenos com estas características pode chegar às 30 toneladas por hectare. Importa referir que 1 cm de espessura de solo demora cerca de 400 anos a ser gerado em condições naturais óptimas.
A segunda questão tem a ver com o planeamento da rearborização. É sabido que novas plântulas de eucalipto despontaram em muitos locais. Mas é essa a floresta que queremos na Serra d'Ossa? O que era a floresta da Serra d'Ossa em finais da década de 60?
Memórias da Igreja, do Monte, da ribeira do Canal, poderão ser revividas?
A reflorestação tem de ser feita de forma a prevenir o risco de incêndio. Mas tem de ser mais do que isso. Tem de devolver a Serra d'Ossa à comunidade de povos de Estremoz, de Borba, do Redondo e do Alandroal, de forma a que a voltem a sentir como sua, após meio século de espoliação. Do direito à água fresca. Às sombras aprazíveis. À vida na floresta.
O Plano de Controlo de Erosão na área ardida da Serra d´Ossa, apresentado ao Programa AGRIS e aprovado recentemente, conta com uma comparticipação de 80 por cento por parte da União Europeia e do Estado. É dinheiro de todos nós. Que convirá não ser aplicado para benefício de apenas alguns.
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Crónica de um debate no "entre-Douro-e-Minho"
Não se pode dizer que seja propriamente uma aldeia; é mais um conglomerado de lugares.
É certo, a Igreja Nova, funciona como o centro da freguesia. Mas os seus 1500 habitantes estão espalhados por pequenas aglomerações no terreno: Assento, na base, junto às pontes medievais de S. João e de Travassós e à capela do século XII, onde se realizam as festas no último domingo de Agosto; Lourido, onde querem fazer a mini-hídrica; S.Paulo; Barrias; Corvete, lá no alto...
Os rios que a cruzam, o Bugio, o Ferro e o Vizela, são os responsáveis por tamanha dispersão: recortaram de tal forma o terreno que a freguesia é assim um misto de recantos, casas e caminhos, bordejados por renques de árvores frondosas e cruzados por linhas de água que, mesmo no Verão, teimam em correr para fora das valetas.
E foi de água que se tratou na reunião pública de 6 de Agosto de 2007 que teve lugar no salão paroquial de Jugueiros, junto à Igreja Nova.
Tinhamos sido alertados, uma semana atrás, acerca de um provável início a breve trecho de trabalhos no terreno conducentes à implementação de um aproveitamento hidroeléctrico no rio Bugio, conhecido pela Mini-hídrica de Lourido e que estava a deixar a população inquieta.
O rio Bugio já se encontra ocupado a montante por um empreendimento semelhante, datado do Estado Novo, com resultados desastrosos para as populações de Jugueiros, que o conhece como o “Sumidouro”: a comporta que deveria garantir o chamado “caudal ecológico” permanece fechada, como de resto pudemos observar na visita que efectuamos ao local horas antes da sessão – a água é totalmente desviada para o canal que a leva à conduta e que a transporta para a casa das turbinas; o rio propriamente dito, naquele trecho, é apenas uma sucessão de poças de água esverdeadas.
É certo que, em teoria, o alvará e a licença de construção da nova mini-hídrica, contempla a garantia de um “caudal ecológico”, por sinal um valor que deverá ser impossível de cumprir em boa parte do ano: 200 litros por segundo! Mas o povo desconfia: não foram deixadas sem água todas as levadas a montante por efeito do “Sumidouro”? E por isso não tiveram os campos, antes regados, de ser abandonados? E os moinhos não deixaram de trabalhar à míngua da força motriz?
Curioso o facto de nos últimos anos ter havido dinheiro para restaurar moinhos, tidos como importantes para a população e parte de um património arquitectónico e cultural que enche de orgulho os seus habitantes! Mas como fazer girar as pás dos moinhos se lhes roubam o precioso líquido?
O povo de Jugueiros olha para o poder com desconfiança: mesmo para o poder local. Não é verdade que Felgueiras-cidade bebe a água que vem extrair à freguesia de Jugueiros cujos habitantes, em troca, se a quiserem, têm de ter os seus furos particulares?
Na verdade o povo de Jugueiros vive um pouco à parte desta “democracia”: rege-se por normas consensuais e conformes à boa razão, consagradas pelos usos e costumes tradicionais do povo e de longa data praticadas. Usos e costumes que compõem o chamado “direito consuetudinário”; leis que não precisam de estar escritas para serem assumidas por todos como boas e garantirem a ordem pública; direitos de que frequentemente as empresas fazem tábua rasa, umas vezes por desconhecimento, outras por pura arrogância de quem quer, pode e manda.
A propósito de empresas, uma empresa foi formada para explorar a futura mini-hídrica: a Empresa Hidroeléctrica de Felgueiras – uma parceria da Câmara Municipal de Felgueiras com quatro empresas espanholas (maioritárias!) de pequena dimensão e sem currículo conhecido. Não está em causa serem espanholas. Nem não serem detentoras de um currículo invejável: afinal trata-se de um pequeno empreendimento. O que está em causa é não darem a cara. A população de Jugueiros não sabe quem são. É o presidente da junta de freguesia que actua por eles, nos contactos necessários para a preparação da obra. Estranha e indesejável conjunção (promiscuidade?) entre os interesses económicos e os de quem deveria ser o primeiro a interpretar a vontade do povo que o elegeu...
Porque praticamente nada se conhece do projecto: o traçado das condutas, onde vão passar as linhas de alta (?) tensão, as “levadas” que irão ser preservadas... Sabe-se, isso sim, que a casa das turbinas vai ficar em terrenos da Reserva Ecológica Nacional, os mesmos onde o proprietário foi impedido de realizar construções recentemente.
E também nada se sabe dos impactes ambientais. É que a lei isenta estes empreendimentos de avaliação de impacte ambiental: como se os rios que vão deixar de ter água não comportassem vida, peixe que hoje é abundante não fosse desaparecer, paisagens e ambientes aprazíveis não fossem definhar, campos regados não fossem secar, só porque a altura do açude não é x ou a produção em Mwh não atinge y!
Perante os receios fundamentados da população de Jugueiros de que o empreendimento em questão possa afectar de forma negativa os seus usos e costumes, lesando os seus direitos e o ambiente, disponibilizamo-nos a reunir com a população de Jugueiros e estudar soluções para que possa valer os seus direitos.
As fotos seguintes valem como reportagem:
- primeiro, o arranque do debate, com a assistência um pouco desconfiada, alguns confundindo-nos com os próprios promotores da obra;
- depois, mais descontraídos e participantes, atropelando-se nas falas, como é próprio de quem não está habituado a debates;
- finalmente, já com uma Comissão pró-associação mandatada para a recolha de assinaturas e os contactos com a Câmara Municipal de Felgueiras
Conseguirá o povo de Jugueiros fazer valer os seus direitos? É uma incógnita. Mas como alguém disse: se não lutarem por eles, ninguém lhos dará de mão beijada!
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
A imagem da cidade
Na sondagem anterior a larga maioria pronunciou-se por turismo/cultura/ambiente como motor do desenvolvimento de Estremoz. Mas um turismo de qualidade é incompatível com os abcessos que tornam a cidade feia sob vários pontos de vista.
Quem, vindo de Borba, não se incomoda com as escombreiras que obliteram a silhueta da cidade?
E o mamarracho dos silos da EPAC? Que fazer com eles? Vão abaixo?
E as muralhas, ou o centro histórico em torno do castelo, pejados de lixo e de ruínas?
Para não falar do Rossio, o eterno parque de estacionamento da cidade...
São apenas 4 aspectos negativos (quantos outros existirão?), envolvendo questões urbanísticas, paisagísticas e ambientais, que afectam (e de que maneira!), a imagem da cidade, a qualidade de vida e uma perspectiva de desenvolvimento sustentável que coloque Estremoz acima da mediania.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Turismo, cultura e ambiente: base do desenvolvimento de Estremoz
A votação vale o que vale: 28 pessoas pronunciaram-se (algumas em mais do que uma opção), 22 das quais na alternativa vencedora. 28 pessoas não são uma amostra representativa dos estremocences, ou daqueles que querem saber do futuro de Estremoz.
Mas se existem pelo menos 22 cabeças pensantes que acreditam que o turismo, com base na promoção da cultura e na protecção do ambiente, é um caminho válido para Estremoz, então valerá a pena iniciar o debate acerca da forma como devemos levar a cabo esse desiderato.