segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Porque não contribui a indústria dos mármores para o progresso de Estremoz?

Durante a década de 80 e início de 90 o sector das rochas ornamentais, com os mármores à cabeça, aumentou significativamente a sua importância relativa no contexto da indústria nacional, tendo vindo a registar um forte crescimento, reflectido em taxas médias anuais de crescimento da produção e das exportações da ordem dos 25%.

Importa referir que esta evolução foi acompanhada pela tendência de exportação de produtos de maior valor acrescentado, em detrimento dos produtos em bruto, tendo em 20 anos os produtos exportados "em obra", passado para cerca de 3/4 do total, em contraste com os cerca de 1/3 registados em 1975.

No fim da década de 90 Portugal ainda se mantinha no grupo dos cinco maiores produtores e exportadores de produtos acabados de rochas ornamentais juntamente com a Itália, China, Espanha e Índia.

Mas, apesar dos pontos fortes:

  • existência de recursos geológicos diversificados e de qualidade, com realce para os mármores
  • uma capacidade de transformação instalada razoável (embora com alguma debilidade nas fases finais do ciclo produtivo)
  • um sector dinâmico de exportação,
já eram claros os estrangulamentos:

  • mau aproveitamento das jazidas, resultante de um baixo nível tecnológico
  • insuficiente capacidade técnica, de gestão e organização da produção
  • inexistência de estratégias eficazes de marketing, comercialização e internacionalização.

De facto, com excepção de poucas (grandes) empresas do sector extractivo, a esmagadora maioria do tecido empresarial caracterizava-se por uma estrutura financeira deficiente, baixo nível tecnológico, fraco domínio dos canais de comercialização e baixos níveis de qualificação da mão-de-obra e do controlo ambiental e sanitário.

Este sub-dimensionamento das unidades produtivas teve consequências importantes na falta de competitividade, em termos de economia global, e clara relação com o baixo nível tecnológico, que se traduz em baixa produtividade, quando comparada com a dos países directamente concorrentes. A produtividade do subsector das rochas ornamentais em Portugal, situada em 1993 nas 280 toneladas por trabalhador, era equivalente a ¼ da italiana - o que tinha correspondência com o facto do custo unitário do trabalho em Portugal ser igual a 28% do italiano.

De então para cá as empresas foram confrontadas com mutações da envolvente internacional e com constrangimentos de competitividade que exigiam capacidade de reacção e adaptação à mudança (factores que não são compatíveis com o nível de rigidez estrutural entretanto acumulado ao longo de décadas).

Teria sido necessário assumir um novo modelo de industrialização, caracterizado por alterações significativas nos modos de produção (introdução de novas tecnologias e novas formas de organização produtiva), na natureza do produto (ciclos de vida cada vez menores) e nas formas de comercialização.

E teria sido também necessário compreender que uma nova geografia de segmentos de produção de menor valor acrescentado se ia desenhando, produzindo fenómenos de deslocalização e o aparecimento de novos países industriais (China, India, Brasil, Africa do Sul).

A flexibilização dos sistemas de produção, como resposta às flutuações que caracterizam os mercados, com a substituição da produção em massa por pequenas séries de produtos por medida e a incorporação de serviços especializados de alto conteúdo tecnológico, são tendências que, necessariamente, se deveriam ter aprofundado.

Infelizmente, ao contrário, a estrutura empresarial continuou a caracterizar-se pela fraca dinâmica de mercado, a tecnologia banalizada e a fraca integração activa nas redes de comercialização, não tendo por isso condições para acompanhar o ritmo dos novos competidores da envolvente internacional.

A generalidade das empresas não foi capaz de desenvolver factores determinantes para uma melhor posição concorrencial, como seja: a cooperação entre empresas ao nível da investigação pré-competitiva, a expansão de eco-tecnologias, o investimento em formação, investigação e desenvolvimento e marketing, as tecnologias da informação, a organização da produção, etc...

20 anos se passaram sobre o boom dos mármores de Estremoz. Há 10 que subsiste a agonia.

O que se pode esperar de uma indústria que não contribuiu para o progresso de Estremoz enquanto foi rica, agora que vive a sua decadência?