quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Recuperar a Serra d'Ossa

A Serra d'Ossa estava a arder faz precisamente um ano. Cerca de 5.000 hectares foram devastados pelo fogo, dos quais, mais de metade nos terrenos geridos pelo Grupo Portucel-Soporcel.

A vertente norte da Serra, virada para Estremoz, exibiu durante os últimos meses a sua face calcinada. Há várias décadas que o panorama não era tão sombrio.

É claro que a natureza pode muito. O verde despontou em muitos locais. A chuva de Outono (e alguma da Primavera), também ajudou. Mas importa ver também os efeitos deletérios no ambiente: desde logo a erosão.

Os efeitos erosivos na área ardida passam pelo arrastamento das cinzas e a contaminação das águas, pela obstrução das passagens hidráulicas e a destruição dos caminhos e, principalmente, pela perda de solo.

Não havendo controlo da erosão a perda de solo em terrenos com estas características pode chegar às 30 toneladas por hectare. Importa referir que 1 cm de espessura de solo demora cerca de 400 anos a ser gerado em condições naturais óptimas.

A segunda questão tem a ver com o planeamento da rearborização. É sabido que novas plântulas de eucalipto despontaram em muitos locais. Mas é essa a floresta que queremos na Serra d'Ossa? O que era a floresta da Serra d'Ossa em finais da década de 60?

Memórias da Igreja, do Monte, da ribeira do Canal, poderão ser revividas?

A reflorestação tem de ser feita de forma a prevenir o risco de incêndio. Mas tem de ser mais do que isso. Tem de devolver a Serra d'Ossa à comunidade de povos de Estremoz, de Borba, do Redondo e do Alandroal, de forma a que a voltem a sentir como sua, após meio século de espoliação. Do direito à água fresca. Às sombras aprazíveis. À vida na floresta.

O Plano de Controlo de Erosão na área ardida da Serra d´Ossa, apresentado ao Programa AGRIS e aprovado recentemente, conta com uma comparticipação de 80 por cento por parte da União Europeia e do Estado. É dinheiro de todos nós. Que convirá não ser aplicado para benefício de apenas alguns.