terça-feira, 2 de outubro de 2007

Não à refinaria na Extremadura espanhola

As águas da ribeira de Rio de Moinhos correm o risco de andar mais sós e mais sujas quando se juntarem às do Guadiana, num futuro não muito longínquo, se o Governo português "não puser os pés à parede".

É que lá para as bandas da Extremadura um sujeito que dá pelo nome de Alfonso Gallardo, e que tem o governo autonómico no bolso, insiste em construir uma refinaria a centenas de quilómetros da costa. Imagine-se as voltas que as condutas que transportariam o crude do porto de Huelva fariam para atravessar a Serra Morena até Villafranca de los Barros (Zafra) e as correspondentes de volta a Huelva, com o produto para exportação.

Quem anda neste negócio sabe que há duas localizações lógicas para as refinarias em países não produtores de petróleo: junto à costa (porque é aí que aportam os petroleiros), ou junto a grandes cidades (porque é aí que se consomem os produtros petrolíferos). Pois esta não está num lado nem noutro. Não se julgue porém que o homem é burro: se não há indústria que consuma o produto, ele próprio a cria - uma cimenteira, uma siderurgia e, na forja, várias centrais térmicas: é obra!

Pois estes senhores solicitaram à Confederação Hidrográfica do Guadiana a concessão de 4 hm3/ano de água da albufeira de Alange para tratar (leia-se dessalinizar) os crudes provenientes do Alto Orinoco da Venezuela (que são dos mais impuros e de maiores teores de resíduos do mundo).

Acontece que a albufeira de Alange constitui um importante elemento de regulação da bacia do Guadiana, capaz de compensar perdas no caudal previsto pela Convenção de Albufeira.

Acontece também que no ano hidrológico transacto (2005/2006), houve um défice de, pelo menos, 16 a 18 hm3 no valor do escoamento total afluente a Portugal a jusante de Badajoz. Podendo parecer insignificante, corresponde a uma perda de caudal constante ao longo do ano de 0,5 m3/s. Mesmo assim, não foi compensado pelas autoridades espanholas, apesar das condições de armazenamento serem então altamente favoráveis... o que fará quando parte dos caudais estiver alocado a este projecto industrial!

Será importante saber, em sede de avaliação de impacte ambiental, que posição o Estado português irá tomar face à perspectiva de se vir a destinar uma quantidade tão desproporcionada de água doce a um projecto insustentável de abastecimento de uma refinaria de crudes pesados, cujos efluentes serão em seguida devolvidos à mesma bacia, sem contar com a perspectiva, sempre possível, de um acidente com derrames catastróficos no Guadiana.

Seria também importante que os alentejanos se unissem na recusa deste projecto que se afigura desastroso para a qualidade das águas da bacia do Guadiana e para os empreendimentos nela instalados, com destaque para o Alqueva.